quinta-feira, março 25, 2010

Silêncio

Quero o silêncio, preciso do silêncio!
Quero mergulhar numa calma completa e total,
Até me afogar na envolvente ausência de ruído!
Um silêncio tão absoluto que me rebente os ouvidos
Que faça a minha volátil essência sangrar e evaporar,
Libertar-se do meu casulo mortal,
E perceber o mundo como uma complexa ligação
De coisas triviais
E coincidências banais!

Sim,
Tocar na verdade pura,
Condensar-se numa nuvem trovejante,
E deixá-la chover sobre a minha mente,
Fazer-me renascer Triunfante
Acima desta atmosfera poluída com nojento ruído!

Preciso do meu sossegado, calado, quieto, monótono e chato silêncio,
Preciso dele mais do que do ar que respiro.

sábado, outubro 11, 2008

Passado

Este noite fugi,
Passei pelo meu passado
Quando ainda todos eram eternos
E o futuro era distante e perfeito.

Encontrei os imortais tombados,
Mortos à traição
E esquecidos
Nas ruínas dos sonhos,
Abandonados
Às larvas que os devoram
Lentamente,
Pacientemente,
Numa agoniante podridão...

O reino que ergui
Todo ardeu e apodreceu
No fundo da minha memória,
Apenas restam cinzas
Negras como esta noite sem lua
Que engolem tudo na sua escuridão...

sábado, agosto 23, 2008

Moribundo

Tudo me soa tão mal!
Perdi o talento e continuo a insistir,
Começo um texto e acabo por desistir,
Arrependo-me de começar,
Porque tudo soa tão mal!

E este monstro,
Este cadáver ressequido
Onde está tudo isto escrito
Continua a atormentar-me,
A falar por entre pensamentos,
A lembrar-me que já fui melhor...

segunda-feira, junho 16, 2008

Sem tempo

Deixei a minha vida
Debaixo das coisas importantes
Que tenho que acabar para ontem...

Ontem já passou
E amanhã não chega
Sem trazer mais coisas
Para esconder mais a minha vida
Que nem sei se ainda está
Lá no fundo à minha espera

Sinto o relógio
Rasgar a minha alma,
Prendê-la enquanto sangra esperança
Pelas feridas que não tenho tempo de sarar...

segunda-feira, julho 23, 2007

Fuga

Um dia caí, para baixo da minha sombra.
Sai deste mundo, reles e podre.

Mergulhei na mais profunda escuridão,
Mais negra que qualquer noite sem estrelas.
Um breu que engolia até a vontade de voltar a ver,
Ouvir ou sentir o que quer que fosse.

Não sei se foi um sonho,
Uma quimera ou real,
Mas senti este estranho mundo como acolhedor.

Como meu.

Tão meu quanto a minha própria alma.
Não, mais meu ainda.



Naquele instante,
Achei este mundo como a única coisa
Que alguma vez na vida
Eu pude chamar minha sem mentir.



Todos os problemas,
Angústias e medos
Morreram com a luz do dia.

Todas as metas deixaram de fazer sentido,
Todas as necessidades estavam satisfeitas,
Todas as futilidades, todas as pessoas, tudo...

Estava resolvido...

Restava apenas eu,
Na mais pura solitude,
Na mais límpida calma que alguma vez me lembro de sentir...

quarta-feira, março 28, 2007

Calma

Estou imerso
De corpo e alma
Na mais calma água...

Todo o ruído
Que magoou a minha mente
Está lá fora, ausente
Proibido neste paraíso
Que eu encontro só meu...

Nem os movimentos bruscos
Encontram aqui lugar...

Estou mergulhado em descanso puro...

Ah, infame ânsia de viver
Que ainda encontro em mim,
Nega-me este descanso sem fim
E traz-me de volta,
Para o ar sujo,
Para o barulho...

quinta-feira, março 01, 2007

Esmagado

Uma pesada nuvem
Desceu ao meu mundo,
Carrega os restos da esperança
Queimada no derradeiro suspiro
Do meu último sonho...

Finalmente
A nuvem encontra o seu fim
Caíndo desfeita em mil cinzas...

Vejo,
Sinto,
Toco,
Cheiro,
Saboreio,
E finalmente respiro
Todos os pequenos pedaços
Que esta cinzento nuvem
Deixou cair sobre mim...

Sufoco tão lentamente
Quanto uma nuvem de fumo
Parte ao encontro do céu...

Não resta opção
Senão desaparecer no cinzento
Que enche todo o meu, outrora vazio, mundo...